Tecnologia sem limites vs Tecnologia Humanizada

A subida de Trump ao poder nos EUA, aporta uma verdadeira disrupção face à evolução do mundo até então, também na área da tecnologia.

Um dos temas que tem sido objecto de discussão na área tecnológica e, em particular na área da Inteligência Artificial é a da dicotomia, desenvolvimento da IA vs segurança da mesma face a impactos negativos que possa ter sobre as pessoas. De facto, tal não deveria constituir uma dicotomia, mas parece sê-la cada vez mais face a ambientes em que o principal valor se torna a procura do lucro e da liderança mundial.

Duas perspectivas, diria antagónicas, se podem confrontar neste domínio, a Europeia e a Americana:

- A Europa, tem dado ênfase ao desenvolvimento tecnológico centrado no Ser Humano, na regulação, na disponibilização de soluções que complementem e aumentem a Humanidade, e na segurança e no evitar em potenciais malefícios desse desenvolvimento;

- Os EUA - maximizada esta última pela ideologia da administração Trump - têm privilegiado um tipo de desenvolvimento, típico do capitalismo totalmente liberal, em que o Estado deixa de se focar primordialmente na segurança da pessoa, ao privilegiar o crescimento, per si. Nesta perspectiva, a tecnologia surge principalmente como elemento de maximização do lucro dos gigantes operadores tecnológicos, como a OpenAI, Google ou Meta e dos seus clientes, sem preocupações acentuadas nos seus efeitos.

Na realidade, tal não é estranha à cultura humanista da civilização europeia face à mais liberal da americana, claramente assumida pela ideologia republicana, e que cujos potenciais efeitos negativos de um desenvolvimento tecnológico sem o devido enquadramento, têm vindo a ser alertados nos últimos anos, por reputados cientistas da área.

Entendemos que a estratégia de desenvolvimento tecnológico, sempre desejável, deverá ser enquadrada pela equação dos eventuais impactos negativos que possam ter sobre as pessoas. Num momento em que se estará no limiar da Inteligência Artificial Geral, já para não falar na Inteligência Artificial Superior – se tal for atingida – é imperativa existência de limites ao seu desenvolvimento, de forma a que a tecnologia possa sim estar ao serviço da Humanidade, mas não constituir um veículo de ameaça à mesma. Pensamos que era nesse sentido que caminharia um pouco a administração de Biden, ao passo que sempre foi esse o foco da União Europeia.

Receamos que a nova ultraliberal administração americana, ao defender um tipo de capitalismo com poucos limites, crie as condições para um tipo de desenvolvimento tecnológico desfocado da Humanidade - ao serviço da melhoria da vida dos cidadãos e que privilegie a segurança - subestimando eventuais ameaças que decorram desse modelo para a própria existência humana.

Carlos Manuel de Oliveira

Humantech Marketing Futures

Fevereiro 2025